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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Biomecânicos acreditam que Bolt pode chegar a 9,40s nos 100m

Um ano depois de ter deixado o mundo a pensar que tempo teria conseguido se não tivesse desacelerado na final olímpica dos 100 metros em Pequim, Usain Bolt volta a deixar a humanidade envolta numa pergunta: até onde pode ir este jamaicano de 22 anos? Desta vez, porém, o velocista mais rápido de sempre ajuda na resposta. "Tudo é possível. Sei que posso correr em 9,40s. Penso que pararei nesse tempo", disse Bolt, após uma corrida em que os limites humanos voltaram a ser esticados.
Dois professores de biomecânica ouvidos pelo PÚBLICO consideram perfeitamente possível o jamaicano baixar para a casa dos 9,40 segundos. "É, sem dúvida, possível. A facilidade com que a marca foi conseguida, aliada à idade e ao potencial de evolução, torna possível ele fazer significativamente melhor", defende Paulo Colaço, professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
António Veloso, director do laboratório de biomecânica da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, acrescenta mesmo que se Bolt fala em 9,40s "é porque em condições de treino já andou perto".
Os dois especialistas consideram "falíveis" os sucessivos estudos que têm definido os limites do ser humano. Um dos mais recentes, publicado no final do ano passado por Mark Denny no Journal of Experimental Biology, apontava 9,48s como o limite do ser humano nos 100 metros. Bolt colocou-se agora a dez centésimos dessa marca, numa altura em que tem 22 anos e uma grande margem de progressão.
Esses estudos, baseados em modelos matemáticos sobre a evolução dos recordes no passado, não têm em conta aspectos importantes, como a evolução dos equipamentos e das pistas (que permitem desperdiçar menos energia), o surgimento de foras-de-série como Bolt e os ganhos com as novas metodologias de treino, que Paulo Colaço define como um dos segredos para continuar a quebrar recordes.
Máximo de 44,72 km/h
Bolt é considerado um atleta excepcional, até porque, como refere António Veloso, tem características únicas. Tem o melhor dos sprinters altos (a amplitude das passadas) e junta-lhe um poder de aceleração "impressionante", sinónimo de grande "potência muscular". Bolt necessitou anteontem de 41 passadas para completar o hectómetro, enquanto Tyson Gay precisou de 45,2 e Asafa Powell de 44,5. E se na velocidade de reacção na partida o jamaicano perdeu para os rivais, à passagem dos 20 metros já seguia na frente (ver infografia).
Os dois especialistas consideram "fenomenal" que o jamaicano tenha percorrido os últimos 20 metros quase no mesmo tempo dos 20 anteriores (quando atingiu o pico) e apontam a partida como o aspecto em que Bolt mais pode melhorar. Outro ponto de progresso poderá ser prolongar a duração do pico de velocidade, que no domingo atingiu os 44,72 km/h (média 37,58 km/h). Paulo Colaço destaca que Bolt atingiu uma velocidade máxima "próxima da de animais considerados muito mais rápidos do que o ser humano" (o gato atinge 48,27 km/h e o coelho 56,3).
"Lightning" Bolt (que não se vê como uma lenda ou o melhor velocista da história) pode ainda contar com a ajuda externa: na final de Berlim o vento era de 0,9 metros/segundo, ainda longe do limite dos 2 m/s. Com vento a favor mais forte, uma partida melhor e mantendo a mesma performance, o jamaicano pode baixar dos 9,50s, explica António Veloso. Por tudo isto, o jamaicano poderá continuar a quebrar barreiras. E não só nos 100m. A partir de hoje, ver-se-á o que fará nos 200m, em que Gay não estará, devido a dores nos adutores.

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